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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

China busca soluções para frear desigualdade social

"Processem-me se tiverem coragem. Meu pai é Li Gang!", disse o jovem aos guardas da Universidade de Hebei que o interceptaram quando tentava fugir após atropelar dois estudantes. O motorista, que se negou a descer do carro, é Li Qiming, filho do subchefe de polícia da província, no leste da China. Uma das vítimas do atropelamento, em outubro, morreu. Era Chen Xiaofeng, filha de agricultores pobres.

Apesar de imprensa oficial deixar de cobrir o crime, internautas transformaram o fato em um debate nacional sobre o abuso de privilégios. "Meu pai é L i Gang" se tornou um slogan para expressar a vontade de fugir da responsabilidade e passou a simbolizar a crescente diferença entre pessoas com poder e as mais pobres.

Numerosos blogs chineses fazem alusão aos "ricos de segunda geração", à "segunda geração de funcionários" e à "segunda geração pobre". Também denunciam que os filhos de endinheirados ou de políticos com influência têm privilégios. Para especialistas chineses, o abismo entre ricos e pobres pode criar instabilidade social.

 

Conforme concluíram duas pesquisas diferentes realizadas neste ano pelo oficialista Diário do Povo, a diferença social é um dos temas que mais preocupa o país. O enorme crescimento econômico da China não trouxe quase nenhuma melhora na vida cotidiana, segundo as pessoas que responderam ao questionário. Para 44%, a ampliação da desigualdade de renda e a "divisão social em classes" requerem mais atenção do governo.

"A China deveria ser rica. No entanto, depois da crise financeira, os ricos são mais ricos e os pobres, mais pobres. Só os ricos são felizes. Os pobres, não", escreveu um dos internautas. O coeficiente Gini, que mede a desigualdade social, está em 0,47, informou o Diário do Povo - muito próximo da marca de 0,5, interpretada como risco de instabilidade.

Em 2009, 10% das pessoas mais ricas concentravam 45% da riqueza e 10% das mais pobres, apenas 1,4%. Muitos jovens não têm oportunidade de ascensão social.

"Consolida-se a concentração de poder na educação, no emprego e em vários outros setores, e as classes mais baixas estão perdendo seus direitos. A cada dia é mais estreito o canal de ascensão social para os mais pobres", escreveu Dai Zhiyong, colunista do periódico Southern Weekend.


Internautas que se apresentam como membros da "segunda geração de pobres" dizem não querer que seus filhos suportem o mesmo destino que herdaram e prefere m não ter descendência, segundo a imprensa oficial. "Sou da segunda geração pobre e não quero criar a terceira geração", disse Wang Xiaolei, editor de internet de 28 anos, ao jornal China Youth Daily.


Ações do governo

O governo central observa a situação com preocupação. Há alguns meses, as autoridades ordenaram que as redes de televisão começassem a promover valores tradicionais depois que uma participante de um programa ao vivo disse no ar que preferia "chorar em uma BMW a sorrir em uma bicicleta", agarrada às costas do namorado.
 
O governo propôs medidas para frear a ampliação da desigualdade social, como implementar mecanismos para aumentar a renda, elevar o salário mínimo e garantir que os pagamentos sejam feitos em dia e corretamente. As autoridades também falam em melhorar a previdência social nas cidades e no campo.

Em março, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, abordou o assunto em um discurso no Grande Salão do Povo, sede do parlamento, e disse que os benefícios do rápido crescimento econômico deveriam ser distribuídos com mais justiça. "Não só aumentaremos o bolo, desenvolvendo a economia, como também o dividiremos bem", afirmou Wen. "Vamos reverter com firmeza a desigualdade de renda", acrescentou.

A "solução fundamental" para melhorar a situação dos pobres é permitir que os trabalhadores se organizem e formem sindicatos "para dizer do que precisam", disse Hu Xingdou, professor de economia do Instituto de Tecnologia de Pequim. Os cidadãos chineses recorrem cada vez mais à internet como ferramenta de controle do comportamento de funcionários de alto escalão, observou Shao Jian, professor da Faculdade de Humanidades da Universidade de Xiaozhuang, na história cidade de Nanquim.

No caso de Li Gang, a pressão dos internautas obrigou pai e filho a pedir desculpas em um canal de televisão estatal. Depois, a impre nsa oficial informou que Li Qiming foi detido. "Sem a internet, não ficaríamos sabendo de nada", disse Shao.

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